Geralmente, os toques de celulares são uma coisa terrível – os que vêm com os telefones e os que as pessoas colocam (sejam eles músicas ou alguma gracinha qualquer). Daí, é um telefone tocar e eu, de imediato, ficar um pouco descontente.
Uma de minhas irmãs (minhas irmãs, Sandra e Solange, têm bom gosto musical) escolheu para o telefone um toque tão bonito que, sempre que alguém lhe telefona, eu fico contente (a não ser quando ela está distante do telefone e eu preciso pegar o aparelho e levar para ela).
O que ouço quando alguém telefona para minha irmã Solange é um trecho de uma música do grupo Madredeus (com letra e melodia de Pedro Ayres Magalhães):
Aqui, a letra:
HAJA O QUE HOUVER
Madredeus
(letra e música Pedro Ayres Magalhães)
…
Haja o que houver
Eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento ô meu amor
Volta depressa por favor
Há quanto tempo, já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor…
Eu sei quem és
pra mim
Haja, o que houver
espero por ti…
Há quanto tempo, já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor
Eu sei quem és
pra mim
Haja, o que houver
espero por ti…
E por estar agora tomado de algum espírito lusitano, lembro-me de um belo poema que também trata de distância – desta vez, irremediável. Poema da enorme poeta Sofia de Melo Breyner Andresen (Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004), cujo nome já é uma melodia:
MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL
Sofia de Melo Breyner Andresen
…
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
(in “Mar Novo”, 1958)
No vídeo acima, o poema é dito pela atriz portuguesa Rita Loureiro.
É linda a dicção lusitana em seus grandes poetas.