Tempos: No Tempo
Bastante encimada,
bem alta, a trouxa,
o peso sem massa.
Sob ela, o rosto,
centro da cabeça:
um olho, outro olho.
Como pé-de-mesa,
seu pescoço liso;
os ombros por cerca.
Braços estendidos,
as mãos espalmadas,
dois traços, dois riscos.
O tronco, não largo,
vem antes das pernas,
abertas qual arco.
E os pés, os seus pés,
se esforçam em reter
o raro equilíbrio,
pisando o seu piso,
duro e movediço.
Às costas, o abismo.
De um lado há um nada;
do outro, outro nada —
e à frente o vazio.
E a trouxa se alarga
e a trouxa só pesa
e a trouxa o encarca.
E os olhos, cansados,
se vêem, nada vêem.
E a trouxa se assoma
e a trouxa se arde.
E os pés pisam ovos,
e as cascas se abrem.
E os cheiros se sobem,
ou doces ou acres.